— A Disneylândia é uma boa escolha.
— Eu já disse: nada de parques temáticos.
— Eu sei que você já disse isso, mas
lá não tem só montanhas-russas e xícaras de chá que rodopiam. Na
Flórida você pode visitar os estúdios de cinema e o centro de ciência. É
muito educativo.
— Acho que um ex-CEO de trinta e cinco anos não precisa de coisas educativas.
— Eles têm banheiros para deficientes por toda parte. E os funcionários são muito atenciosos. Resolvem qualquer problema.
— Agora você vai dizer que têm passeios a cavalo especiais para deficientes físicos, não é?
— Eles recebem todo mundo. Por que não tenta a Flórida, Srta. Clark? Se não gostarem, podem ir ao SeaWorld. E o clima é ótimo.
— Se colocarmos Will contra a baleia assassina, eu sei quem venceria.
O agente de viagens pareceu não ter escutado.
— E são uma das melhores empresas em
receber deficientes. Sabia que eles atendem a muitos pedidos de doentes
letais da Fundação Make-A-Wish?
— Ele não está morrendo. — Desliguei
o telefone na cara do agente na hora em que Will entrou. Acabei me
atrapalhando um pouco para colocá-lo no gancho e fechar meu bloco de
anotações.
— Está tudo bem, Clark?
— Tudo ótimo. — Abri um grande sorriso.
— Que bom. Você tem um vestido bonito?
— O quê?
— O que vai fazer no sábado?
Ele aguardou, ansioso. Minha cabeça ainda imaginava a baleia assassina contra o agente de viagens.
— Hum... não vou fazer nada. Patrick vai passar o dia todo treinando. Por quê?
Ele demorou alguns segundos para responder, como se desfrutasse do prazer de me surpreender.
— Vamos a um casamento.
* * *
No final das contas, não entendi bem
por que Will mudou de ideia sobre o casamento de Alicia e Rupert.
Desconfio que tenha sido por vontade de contrariar, pois ninguém
esperava que ele fosse, muito menos os noivos. Talvez, finalmente, tenha
decidido encerrar o assunto. Acho que nos dois últimos meses ele deixou
de guardar mágoa dela.
Decidimos que podíamos ir à festa
sem a ajuda de Nathan. Liguei antes para verificar se a cadeira de Will
entraria sem problemas na tenda onde seria a recepção e Alicia se
mostrou tão perturbada quando descobriu que iríamos, que concluí que
aquele convite em alto-relevo só fora enviado para constar.
— Hum... bem... há um pequeno degrau
na tenda, mas os organizadores disseram que também poderiam
providenciar uma rampa... — Ela se esquivou.
— Isso seria ótimo. Obrigada. A gente se vê em breve, então — falei.
Entramos na internet para procurar
um presente de casamento. Will comprou um porta-retratos de prata por
cento e vinte libras e um jarro por sessenta libras que ele disse “estar
de graça”. Fiquei pasma por gastar tanto dinheiro com pessoas de quem
não gostava, mas em poucas semanas trabalhando com os Traynor percebi
que a noção de dinheiro deles era diferente. Preenchiam cheques de
quatro dígitos sem nem pensar.
Uma vez, vi o extrato bancário de
Will, que foi deixado na mesa da cozinha para ele conferir. Tinha o
suficiente para comprar duas casas iguais à nossa. E era só a
conta-corrente.
Resolvi usar o vestido vermelho, em
parte porque Will gostava dele e naquele dia ele precisava de todas as
pequenas vantagens possíveis. Mas também porque não tinha nenhum outro
vestido que eu tivesse coragem de usar em uma ocasião como aquela.
Will não imaginava o medo que eu
tinha de ir a um casamento da alta sociedade, ainda mais como cuidadora.
Toda vez que pensava no vozerio, nos olhares na nossa direção, acho que
preferia passar o dia inteiro vendo Patrick correr em círculos. Talvez
fosse bobagem minha me importar com isso, mas não pude evitar. Pensar
nos convidados nos olhando já me dava nós no estômago.
Não disse nada a Will, mas temia por
ele. Ir ao casamento de uma ex parecia, na melhor das hipóteses, um ato
masoquista, porém, ir a uma festa cheia de velhos amigos e colegas de
trabalho para ver a noiva se casar com um ex-amigo, para mim mais
parecia um convite à depressão. Tentei fazê-lo enxergar tudo isso no dia
anterior, mas ele rejeitou.
— Se eu não estou preocupado, Clark, acho que você também não deveria estar — disse Will.
Liguei para Treena e contei.
— Verifique se ele não escondeu antraz ou armas na cadeira de rodas — foi só o que ela recomendou.
— É a primeira vez que eu o levo longe de casa e vai ser um terrível desastre.
— Vai ver que ele só quer comprovar que há coisas piores do que morrer.
— Engraçadinha.
Ela não estava prestando muita
atenção à nossa conversa telefônica. Treena se preparava para um curso
de uma semana para “líderes empresariais em potencial”, e mamãe e eu
cuidaríamos de Thomas. Ela disse que o curso ia ser fantástico, alguns
dos grandes nomes do mercado estariam lá. Seu orientador incentivou-a e
ela foi a única a ter direito ao curso de graça. Eu tinha certeza de
que, enquanto conversávamos, ela digitava no computador. Podia ouvir os
dedos batendo no teclado.
— Que bom — falei.
— O curso vai ser numa faculdade em
Oxford. Não é nem na antiga Escola Técnica, e sim nos prédios conhecidos
como “espirais de sonho”.
— Legal.
Ela fez uma pausa.
— Ele não tem tendência suicida, tem?
— Will? Não mais que o normal.
— Bom, já é alguma coisa. — Ouvi o som de aviso de um novo e-mail.
— Preciso ir, Treen.
— Certo. Divirta-se. Ah, e não use aquele vestido vermelho. É muito decotado.
* * *
O dia do casamento amanheceu claro e
perfumado como eu secretamente sabia que seria. Garotas como Alicia
sempre conseguem o que querem. Alguém deve ter conversado com os deuses
do clima.
— Observação muito rude, Clark — criticou Will, quando comentei isso.
— Bom, aprendi com quem sabe.
Nathan tinha chegado cedo para
aprontar Will e podermos sair lá pelas nove da manhã. Levaríamos duas
horas de carro até lá e eu tinha planejado a viagem com cuidado, com
paradas em locais com os melhores serviços. Arrumei-me no banheiro,
calcei as meias nas pernas recém-depiladas, me maquiei, depois tirei
tudo, temendo que os anfitriões chiques achassem que eu parecia uma
garota de programa. Não ousei colocar uma echarpe no pescoço, mas levei
uma estola que poderia usar como xale, se me sentisse muito exposta.
— Nada mal, hein? — Nathan deu um
passo atrás, e eis que vi Will de terno escuro, camisa azul-escura e
gravata. Estava barbeado e com o rosto levemente bronzeado. A camisa
fazia os olhos dele ficarem especialmente luminosos. De repente,
pareciam carregar o brilho do sol.
— Nada mal — repeti, pois,
estranhamente, eu não queria dizer o quanto ele estava bonito. — A noiva
certamente vai se arrepender de estar se casando com aquele bundão.
Will revirou os olhos.
— Nathan, está tudo na bolsa?
— Sim. Tudo arrumado e pronto para sair. — Virou-se para Will. — Nada de ficar com as damas de honra.
— Como se ele estivesse interessado — falei. — Todas estarão vestindo roupas de gola alta e terão cheiro de cavalo.
Os pais de Will vieram vê-lo antes
de irmos. Desconfiei que tinham discutido, já que seria impossível a
Sra. Traynor ficar mais distante do marido, a menos que estivessem em
condados diferentes. Ela cruzou os braços, firme, e continuou assim até
eu dar marcha a ré no carro para Will entrar. Não olhou para mim nem uma
vez.
— Louisa, não deixe que ele beba muito — recomendou, tirando um fiapo imaginário do ombro de Will.
— Por quê? Não estou dirigindo — disse Will.
— Tem toda razão, Will — concordou o pai. — Sempre precisei de uns bons drinques para aguentar um casamento.
— Até o seu próprio — resmungou a
Sra. Traynor, e acrescentou, mais alto: — Você está muito elegante,
querido. — Ela se abaixou e ajeitou a barra da calça de Will. — Muito
mesmo.
— Você também. — O Sr. Traynor me olhou com aprovação quando saí do carro. — Muito atraente. Dê uma voltinha para nós, Louisa.
Will afastou a cadeira de rodas.
— Ela não tem tempo para isso, pai. Vamos pegar a estrada, Clark. Não seria bom chegar de cadeira de rodas depois da noiva.
Entrei de novo no carro, aliviada.
Saímos, com a cadeira de Will bem presa no banco de trás e o seu
elegante paletó dependurado sobre o banco do carona para não amassar.
* * *
Antes mesmo de chegar lá, eu já
sabia como seria a casa dos pais de Alicia. Na verdade, acertei com tal
precisão que, quando reduzi a velocidade do carro, Will perguntou por
que eu estava rindo. Era uma enorme mansão georgiana, com grandes
janelas parcialmente escondidas por uma fartura de glicínias claras e
cascalho cor de caramelo na entrada. A residência perfeita para um
coronel. Imaginei Alicia crescendo ali, o cabelo louro preso em duas
tranças perfeitas enquanto montava seu primeiro e gorducho pônei no
gramado.
Dois homens com coletes refletivos,
compenetrados, dirigiam o trânsito para um gramado que ficava entre a
casa e a igreja. Abaixei o vidro do carro.
— Há algum estacionamento ao lado da igreja?
— Madame, os convidados devem seguir por aqui.
— Bom, temos uma cadeira de rodas
que vai afundar no gramado — expliquei. — Precisamos parar bem ao lado
da igreja. Olha, vou estacionar ali.
Os dois se entreolharam e murmuraram
algo um para o outro. Antes que dissessem qualquer coisa, parei o carro
num lugar isolado ao lado da igreja. E lá vamos nós, pensei,
encontrando o olhar de Will no espelho retrovisor quando desliguei o
motor.
— Fique calma, Clark. Vai dar tudo certo — disse ele.
— Estou extremamente calma. O que o faz pensar o contrário?
— O fato de você ser ridiculamente transparente. Além de ter roído quatro unhas enquanto dirigia.
Estacionei, desci do carro, ajeitei a estola nos ombros e ativei os controles para abaixar a rampa.
— Certo — falei, quando as rodas da cadeira de Will tocaram o chão.
Do outro lado da trilha no gramado,
as pessoas saíam de seus enormes carros alemães, as mulheres de vermelho
conversando com os maridos enquanto os saltos dos sapatos afundavam na
grama. Eram todos altos e discretos, em ternos de cores neutras. Mexi no
cabelo, pensando se havia exagerado no batom. Tinha a impressão de
estar parecendo um daqueles potes vermelhos de ketchup.
— Então... como vamos nos comportar hoje?
Will acompanhou meu olhar.
— Sinceramente?
— Sim. Preciso saber. Mas, por favor, não diga que provocaremos Choque e Pavor. Está planejando algo terrível?
O olhar de Will encontrou o meu. Olhos azuis, insondáveis. Um pequeno enxame de borboletas pareceu voar no meu estômago.
— Clark, vamos nos comportar de maneira inacreditavelmente exemplar.
As borboletas começaram a bater asas
sem parar, como se estivessem presas às minhas costelas. Abri a boca
para falar, mas ele me interrompeu.
— Olha, faremos o possível para que seja divertido — disse ele.
Divertido. Como se ir ao
casamento da ex-namorada pudesse ser menos dolorido do que fazer
tratamento de canal no dente. Mas foi uma escolha de Will. O dia era
dele.
Respirei fundo, tentando reunir forças.
— Com uma condição — falei, ajeitando a estola nos ombros pela décima quarta vez.
— Qual?
— Você não vai fazer papel de Christy Brown, o personagem de Meu pé esquerdo. Senão, volto para casa e deixo você preso aqui com os elegantes.
Will virou a cadeira em direção à igreja e pensei ouvi-lo resmungar:
— Desmancha-prazeres.
A cerimônia transcorreu sem
incidentes. Alicia estava ridiculamente linda como eu esperava, com a
pele levemente dourada, o vestido de corte enviesado, de seda off-white,
marcando seu corpo esbelto como se não ousasse ficar lá sem permissão.
Vi-a flutuar pela nave da igreja e imaginei como seria ser alta, ter
pernas compridas e parecer com alguém que a maior parte de nós só vê em
comerciais. Imaginei se o cabelo e a maquilagem dela tinham sido feitos
por uma equipe de profissionais. E se ela estaria usando uma calcinha
modeladora. Claro que não. Devia usar coisinhas rendadas em tons suaves –
lingeries femininas para quem não precisa levantar nenhuma parte do
corpo e que custam mais que o meu salário semanal.
Enquanto o padre falava e as
daminhas de sapatilhas de balé se agitavam nos bancos da igreja, olhei
em volta, notando os outros convidados. Quase todas as mulheres podiam
estampar as páginas de uma revista de luxo. Os sapatos, exatamente no
mesmo tom das roupas, pareciam nunca ter sido usados. As mais jovens se
equilibravam com elegância em saltos de dez centímetros, com as unhas
dos pés muito bem pintadas. As mais velhas, com saltos mais baixos,
usavam vestidos bem-cortados, ombreiras de seda com costuras em cores
contrastantes e chapéus que pareciam desafiar a lei da gravidade.
Era menos interessante observar os
homens, mas todos tinham aquele ar que eu às vezes detectava em Will,
graças à riqueza e aos títulos, dando a impressão de que a vida corria
sem percalços. Imaginei com que pessoas andavam, em que mundo viviam. Me
perguntei se reparavam em pessoas como eu, que cuidavam dos filhos
deles, os atendiam nos restaurantes. Ou faziam pole dance para os seus
colegas de trabalho, pensei, lembrando das minhas entrevistas no Centro
de Trabalho.
Em geral, nos casamentos a que eu
costumava ir, as famílias dos noivos ficavam separadas, pois temiam que
alguém desrespeitasse a liberdade condicional deles.
Will e eu nos sentamos no fundo da
igreja, eu na beirada do banco e a cadeira dele à minha direita. Ele
olhou de relance Alicia passar e virou-se para a frente, com uma
expressão inescrutável. Um coro de quarenta e oito vozes (eu contei)
cantava em latim.
Rupert suava dentro do smoking e
levantou uma sobrancelha como se estivesse se sentindo, ao mesmo tempo,
satisfeito e meio bobo. Ninguém aplaudiu nem comemorou quando o padre
declarou-os marido e mulher. Rupert pareceu um pouco estranho,
inclinou-se sobre a noiva como se fosse morder uma maçã pendurada num
barbante e errou o alvo. Perguntei-me se a classe alta considerava
“deselegante” se agarrar no altar.
Então, a cerimônia chegou ao fim.
Will já estava se dirigindo para a saída da igreja. Vi a parte de trás
da cabeça dele, altiva e curiosamente digna e tive vontade de perguntar
se ele se arrependeu de ter ido. Queria perguntar se ainda sentia alguma
coisa por ela. Queria dizer que ele era bom demais para aquela
mulherzinha dourada sem graça, por mais que as aparências pudessem dar a
entender o contrário e que... não sei o que mais eu queria dizer.
Só queria deixar as coisas melhores.
— Você está bem? — perguntei, ao me aproximar dele.
A grande questão era que devia ser ele ali.
Ele piscou várias vezes.
— Estou ótimo — disse. Deu um
pequeno suspiro, como se estivesse prendendo o ar no peito. Então olhou
para mim. — Vamos tomar um drinque.
A tenda da recepção ficava num
jardim cercado, com portão de ferro decorado com guirlandas de flores
rosa-claras. O bar, no fundo, já estava lotado, por isso sugeri que Will
aguardasse do lado de fora enquanto eu ia pegar uma bebida. Abri
caminho pelas mesas cobertas com toalhas de linho branco, talheres e
cristais, numa quantidade que eu nunca tinha visto antes. As cadeiras
tinham encosto dourado como aquelas que vemos em desfiles de moda e
lanternas brancas penduradas sobre cada centro de mesa de frésias e
lírios. O ambiente estava dominado pelo perfume das flores a ponto de me
fazer sentir sufocada.
— Coquetel de frutas? — perguntou o
barman, quando chegou minha vez. — Hum... — olhei ao redor, e descobri
que essa era a única opção de bebida. — Ah, sim. Dois, por favor.
Ele sorriu para mim.
— As outras bebidas serão servidas
mais tarde. A Srta. Dewar quer que todos comecem pelo coquetel. — Ele me
olhou de um jeito meio conspiratório. A sobrancelha levemente erguida
denunciou o que ele achava disso.
Olhei para aquele drink cor-de-rosa.
Meu pai dizia que os ricos eram mais resistentes, por isso fiquei pasma
por não começarem a festa servindo bebida alcoólica.
— Acho que isso vai ter que servir, então — eu disse ao barman, quando ele me entregou as taças.
Encontrei Will conversando com um
homem. Jovem, de óculos, estava meio agachado, apoiando um braço na
cadeira de Will. O sol estava a pino e apertei os olhos para vê-los
direito. De repente, compreendi por que tantas pessoas estavam com
chapéus de abas largas ali.
— Que ótimo reencontrar você, Will —
dizia o homem. — O escritório não é o mesmo sem você. Eu não devia
dizer isso... mas não é mais a mesma coisa. Não mesmo.
Parecia um jovem contador, o tipo de homem que só se sente bem de terno.
— Gentileza sua.
— Foi tão estranho. Como se você caísse num precipício. Um dia você estava lá, coordenando tudo, no dia seguinte você estava...
Ele olhou para cima, notando minha presença ali.
— Ah — disse, e senti seus olhos pousarem nos meus peitos. — Olá.
— Louisa Clark, quero lhe apresentar Freddie Derwent.
Coloquei a taça de Will no suporte de copo da cadeira e apertei a mão do rapaz.
Ele endireitou os óculos.
— Ah — repetiu. — E...
— Sou uma amiga de Will — falei e, sem saber exatamente por quê, coloquei a mão no ombro de Will.
— A vida não vai nada mal, hein? —
disse Freddie Derwent, dando uma risada que mais pareceu uma tosse.
Enrubesceu um pouco ao acrescentar: — Bom... vou dar uma volta pela
festa. Sabe como são as coisas... devemos considerar esses eventos como
uma oportunidade para fazer novos contatos. Mas foi um grande prazer
revê-lo, Will. E... você, Srta. Clark.
— Ele parece ser uma ótima pessoa — falei, quando ele se afastou.
Tirei a mão do ombro de Will e dei um bom gole no coquetel. Era mais saboroso do que parecia. Mas achei estranho levar pepino.
— Sim, é um cara ótimo.
— Então, não foi embaraçoso.
— Não. — Will olhou para mim. — Não, Clark, não foi nada embaraçoso.
Depois que Freddie Derwent parou
para conversar, outras pessoas se sentiram à vontade para cumprimentar
Will. Algumas mantiveram certa distância, como se assim não precisassem
lidar com o dilema do aperto de mãos; alguns homens puxaram um pouco a
calça para se agachar quase aos pés dele. Fiquei ao lado de Will e falei
pouco.
Percebi que ele se empertigou um
pouco quando dois homens se aproximaram. Um deles, grande e gordo, com
um charuto, parecia não saber o que dizer quando de fato ficou diante de
Will, e acabou perguntando:
— Belo casamento, não achou? A noiva estava maravilhosa. — Imagino que ele desconhecesse o histórico amoroso de Alicia.
O outro homem, que parecia ser um
velho rival de Will nos negócios, foi mais diplomático, mas havia algo
no seu olhar direto e nas suas perguntas objetivas sobre seu estado de
saúde que deixaram Will tenso. Pareciam dois cachorros se rodeando,
avaliando se partiam para cima ou não.
— Ele é o novo CEO da minha
ex-empresa — disse Will, quando o homem finalmente se despediu com um
aceno. — Acho que só quis confirmar que eu não pretendo recuperar meu
cargo.
O sol ficou forte, o jardim se
transformou numa fonte de perfume, as pessoas se protegiam à sombra das
árvores. Levei Will para a entrada da tenda, preocupada com sua
temperatura corporal. Lá dentro, enormes ventiladores foram ligados,
zunindo lentamente acima de nós. Ao longe, sob um abrigo, um quarteto se
apresentava com instrumentos de cordas. Parecia uma cena de filme.
Alicia flutuava pelo jardim, uma visão etérea, mandando beijos e dando gritinhos, mas não se aproximou de nós.
Observei Will tomar dois coquetéis, o que, no fundo, me deixou feliz.
* * *
O almoço foi servido às quatro.
Achei uma hora estranha para almoçar, mas, como observou Will, era um
casamento. O tempo parecia ter se esticado e perdido o sentido.
De qualquer jeito, foi preenchido
por inúmeros drinques e conversas passageiras. Não sei se foi o calor,
ou o ambiente, mas quando chegamos à nossa mesa, eu estava quase bêbada.
Só ao me ver falando sem parar com o idoso à minha esquerda que percebi
que devia estar mesmo bêbada.
— Tem álcool nesse coquetel de frutas? — perguntei a Will, depois de derramar o saleiro no colo.
— O mesmo teor de uma garrafa de vinho. Cada um.
Olhei para ele, apavorada. Olhei para os dois, na verdade.
— Está brincando! O coquetel era de frutas! Por isso, achei que não tinha álcool. Como vou dirigir de volta para casa?
— Bela cuidadora você é — disse ele. Levantou uma sobrancelha. — O que eu ganho em troca se não contar para minha mãe?
Fiquei pasma com a reação de Will
durante todo aquele dia. Pensei que eu fosse ter o Will Taciturno e
Sarcástico. No mínimo, o Will Silencioso. Mas ele foi simpático com todo
mundo. Nem reclamou de servirem sopa no almoço. Perguntou apenas,
educadamente, se alguém aceitava trocar a sopa pelo pão e as duas
garotas na ponta da mesa – que declararam ter “intolerância a trigo” –
quase atiraram os pães nele.
Quanto mais eu me preocupava
em ficar sóbria, mais animado e despreocupado Will parecia. A idosa à
direita dele era ex-integrante do Parlamento e tinha feito campanha
pelos direitos dos deficientes físicos. Foi uma das únicas pessoas que
vi conversar totalmente à vontade com Will; à certa altura, deu para ele
uma fatia de rocambole. No instante em que ela se levantou da mesa, ele
comentou baixinho que ela havia escalado o Kilimanjaro.
— Gosto de velhinhas assim —
acrescentou. — Posso imaginá-la montada numa mula, montanha acima,
levando sanduíches embalados. Elas são resistentes como aquela velha
bota que todo mundo tem no armário.
Tive menos sorte com o homem à minha
esquerda. Ele precisou de uns quatro minutos – nos quais ficou me
perguntando quem eu era, onde morava e quem eu conhecia no casamento –
para concluir que eu não tinha nada a dizer que pudesse despertar seu
interesse. Virou-se para a mulher à sua esquerda e me deixou ali,
calada, brincando com a sobra do meu almoço. À certa altura, quando
comecei a me sentir bem esquisita, Will tirou a mão da cadeira e
apoiou-a no meu braço. Olhei para o que estava fazendo e ele piscou.
Segurei a sua mão e apertei-a, satisfeita por ele ter notado o que houve
entre mim e o homem ao meu lado. Ele então afastou a cadeira da mesa
alguns centímetros para que eu pudesse participar da conversa com Mary
Rawlinson.
— Will me contou que você é a cuidadora dele — disse.
Mary tinha penetrantes olhos azuis e rugas que mostravam que era totalmente refratária a vaidades.
— Tento ser — falei, olhando para ele.
— Sempre trabalhou nessa área?
— Não. Eu... trabalhava num café. —
Eu não pretendia contar isso para mais ninguém naquele casamento, mas
Mary Rawlinson concordou com a cabeça, como se aprovasse.
— Sempre achei interessante ser garçonete. Para quem gosta de lidar com pessoas e é meio intrometida como eu. — Ela sorriu.
Will colocou a mão de volta na cadeira e disse:
— Estou tentando convencer Louisa a fazer outra coisa, a ampliar os horizontes.
— O que você pretende fazer? — ela me perguntou.
— Ela não sabe — respondeu Will. —
Louisa é das pessoas mais inteligentes que conheço, mas não consigo
mostrar a ela o potencial que tem.
Mary Rawlinson lançou um olhar penetrante para ele.
— Não seja paternalista, meu caro. Ela consegue responder por conta própria.
Pisquei.
— Você é que deve decidir — ela acrescentou para mim.
Will parecia prestes a dizer algo, mas calou-se. Olhou para a mesa e balançou de leve a cabeça, mas estava sorrindo.
— Bom, Louisa, imagino que o seu
trabalho atual exija muita energia mental. E não creio que este jovem
seja o paciente mais fácil.
— Com toda a certeza não é.
— Mas Will tem razão ao enxergar
outras possibilidades para você. Fique com o meu cartão de visitas. Faço
parte de uma organização de caridade que incentiva a requalificação
educacional. Quem sabe no futuro você considere fazer outra coisa?
— Estou muito feliz trabalhando com Will, obrigada.
Mesmo assim, ela me entregou o
cartão e aceitei, um pouco surpresa por aquela mulher se interessar pela
minha vida. Por mais que tenha aceitado seu cartão, me senti uma
impostora. Não havia a menor possibilidade de parar de trabalhar, mesmo
se eu quisesse estudar. Não tinha certeza se eu podia fazer uma
requalificação. E, além disso, a minha prioridade era manter Will vivo.
Fiquei tão perdida nos meus pensamentos que parei de ouvir a conversa
dos dois ao meu lado.
— ... ainda bem que você conseguiu
superar, digamos assim. Imagino o quanto deve ser difícil reajustar sua
vida de maneira tão radical a novas expectativas.
Olhei o que havia deixado do meu salmão pochê. Nunca tinha ouvido ninguém falar com Will daquele jeito.
Ele olhou para a mesa, franzindo o cenho, depois virou-se para ela.
— Não tenho certeza se superei — murmurou.
Ela encarou-o por um instante, depois olhou para mim.
Não sei se minha expressão mostrou realmente o que eu pensava.
— Tudo leva tempo, Will — disse ela,
tocando de leve no braço dele. — E a sua geração tem muito mais
dificuldade de aceitar coisas assim. Vocês cresceram esperando que as
coisas acontecessem imediatamente. Esperando viver da forma que
escolheram. Principalmente um jovem bem-sucedido como você. Mas isso
leva tempo.
— Sra. Rawlinson, Mary, não tenho esperança de me recuperar.
— Não me refiro à recuperação física — disse ela. — Refiro-me a aceitar uma nova maneira de viver.
Então, enquanto eu esperava a
resposta de Will, alguém sinalizou batendo um talher numa taça e todos
fizeram silêncio para ouvir os discursos.
Mal ouvi o que disseram. Tenho a
impressão que um homem de smoking atrás do outro citou pessoas e lugares
que eu ignorava, provocando risadas educadas. Continuei sentada ali e
comi uma das trufas de chocolate amargo, que eram servidas em cestas de
prata na mesa, e tomei três xícaras de café seguidas, o que me fez
sentir, além de tonta, trêmula e ligada. Já Will era o retrato da calma.
Ficou observando as pessoas aplaudirem sua ex-namorada e ouviu Rupert
elogiar a mulher maravilhosa que ela era.
Ninguém mencionou Will. Não sei se
para poupá-lo, ou porque a presença dele era meio constrangedora. De vez
em quando, Mary Rawlinson se inclinava sobre ele, cochichava alguma
coisa e ele concordava com a cabeça.
Quando, finalmente, os discursos
terminaram, um exército de empregados surgiu e começou a retirar as
mesas e cadeiras para o baile. Will se inclinou para mim e disse:
— Mary me disse que há um hotel muito bom na estrada. Ligue para eles e veja se podemos ficar lá.
— O quê?
Mary me entregou um guardanapo com um nome e um telefone rabiscados.
— Sem problema, Clark — disse ele,
baixinho, para Mary não ouvir. — Eu pago. Ande, assim não precisa
continuar se preocupando por ter bebido. Pegue o meu cartão de crédito
na bolsa. Eles provavelmente vão pedir o número.
Peguei o cartão e meu celular e fui
para o fundo do jardim. O hotel tinha dois quartos disponíveis: um para
solteiro e um para casal no térreo. Sim, era adaptado para deficientes.
— Ótimo — concordei e tive de conter
uma exclamação quando informaram o preço. Passei o número do cartão de
Will, sentindo um leve enjoo ao ler os números.
— E aí? — perguntou ele, quando voltei.
— Reservei, mas... — informei o preço dos dois quartos.
— Tudo bem — disse ele. — Agora
ligue para o bobo daquele seu namorado, diga que vai dormir fora e tome
mais um drinque. Aliás, tome seis. Eu gostaria muito que você se
embebedasse às custas do pai de Alicia.
* * *
E assim eu fiz.
Aconteceu alguma coisa naquela
noite. Diminuíram as luzes da tenda, então nossa mesinha ficou um pouco
menos destacada e a brisa da noite amenizou o forte perfume das flores. A
música, o vinho e o baile tornaram possível que nos divertíssemos no
lugar mais improvável de todos. Will estava relaxado como eu nunca tinha
visto. Espremido entre Mary e eu, ele conversava e sorria para ela; e
vê-lo feliz por um único instante afastou os olhares desconfiados ou
condoídos das pessoas. Ele me obrigou a tirar a estola e sentar ereta.
Tirei o paletó e afrouxei a gravata dele e tentamos não rir ao ver as
pessoas dançando. Não consigo nem descrever como me senti melhor após
ver a maneira como aquelas pessoas elegantes dançavam. Os homens
pareciam ter levado um choque elétrico, as mulheres apontavam o
indicador para o alto e pareciam muito arrogantes até quando rodopiavam.
Mary Rawlinson resmungou “Meu Deus” várias vezes. Olhou para mim. A cada drinque, seu jeito de falar se tornava mais apimentado.
— Não quer balançar o esqueleto, Louisa?
— Céus, não.
— Muito sensato da sua parte. Já vi gente dançando melhor numa bendita discoteca de Jovens Fazendeiros.
Às nove, recebi uma mensagem de Nathan.
Está tudo bem?
Sim. Tudo ótimo, acredite se quiser. Will está se divertindo muito.
E estava. Morreu de rir de alguma
coisa que Mary disse e uma sensação estranha e segura brotou dentro de
mim. Aquela cena mostrava que tudo podia dar certo. Ele podia ser feliz,
se estivesse rodeado pelas pessoas certas, se pudesse ser ele mesmo, em
vez de O Cadeirante com sua lista de sintomas, digno de pena.
Então, às dez horas, começaram a
tocar músicas lentas. Vimos Rupert rodopiar Alicia pelo salão e ser
aplaudido educadamente pelos convidados. O cabelo da noiva começou a se
soltar e ela passou os braços pelo pescoço dele, como se precisasse de
apoio. Rupert também abraçou-a, apoiando as mãos nas costas dela. Apesar
de ser linda e rica como ela era, senti certa pena de Alicia. Fiquei
pensando que ela só perceberia o que tinha perdido quando fosse tarde
demais.
No meio da música, outros casais
também foram dançar, de modo que os noivos ficaram meio apagados e me
distraí com a conversa de Mary sobre salário de cuidadoras. Até que,
inesperadamente, me deparei com Alicia bem à nossa frente, a supermodelo
de vestido de seda branco. Meu coração ficou na garganta.
Alicia cumprimentou Mary com a
cabeça e inclinou-se um pouco para que Will pudesse ouvi-la apesar da
música. Seu rosto estava um pouco tenso, como se tivesse se obrigado a
ir até ali.
— Obrigada por ter vindo, Will. De verdade. — Ela olhou de relance para mim, mas não disse nada.
— É um prazer — disse Will, simplesmente. — E você está linda, Alicia. Foi uma grande festa.
Um lampejo de susto passou pelo rosto dela. Tomado depois por uma leve desconfiança.
— Acha mesmo? Eu... bom, há tantas coisas que eu gostaria de dizer...
— Jura? Não precisa. Lembra da Louisa? — perguntou Will.
— Lembro.
Fez-se um pequeno silêncio.
Rupert estava logo atrás, olhando para nós, com cautela. Alicia olhou para Will e estendeu a mão, se despedindo.
— Obrigada, Will. Foi superlegal você ter vindo. E obrigada pelo...
— Espelho.
— Isso, adorei o espelho. — Ela se endireitou e foi até o marido, que virou-se, segurando-a pelo braço.
Vimos o casal atravessar a pista de dança.
— Você não deu um espelho de presente.
— Eu sei.
Os noivos ainda conversavam e Rupert
lançava rápidos olhares em nossa direção. Como se não acreditasse que
Will tivesse sido tão simpático. Aliás, nem eu.
— Isso... o incomodou? — perguntei.
Ele desviou o olhar dos noivos.
— Não — respondeu, e sorriu para
mim. O sorriso tinha ficado um pouco torto depois de beber e os olhos
estavam ao mesmo tempo tristes e pensativos.
Então, no instante em que a pista se esvaziou, antes da próxima música começar, eu me vi perguntando:
— O que acha, Will? Vamos dançar?
— O quê?
— Vamos dar assunto para esses panacas.
— Ah, ótima ideia — aprovou Mary, levantando uma taça. — Ótima mesmo.
— Vamos. Enquanto ainda estão tocando música lenta. Pois acho que você não consegue dar pulos sentado nesse negócio.
Não dei nenhuma opção a ele. Sentei
com cuidado no seu colo e coloquei os braços no pescoço dele para
me firmar. Ele olhou bem nos meus olhos um instante, como se pensasse se
podia recusar o convite. Depois, surpreendentemente, conduziu a cadeira
para a pista e começou a dar pequenas voltas sob as luzes faiscantes
dos globos de luz.
Fiquei, ao mesmo tempo, muito
insegura e meio histérica. O jeito como me sentei fez meu vestido subir
até metade das minhas coxas.
— Deixe assim mesmo — disse Will no meu ouvido.
— Está...
— Vamos, Clark. Não me decepcione agora.
Fechei os olhos e apertei os braços
em volta do pescoço dele, nossos rostos colados, sentindo o cheiro
cítrico da loção pós-barba. Podia senti-lo cantarolando a música.
— Eles já estão pasmos? — perguntou ele. Abri um olho na meia-luz.
Duas pessoas sorriam e lançavam
olhares encorajadores, mas a maioria não sabia como reagir àquela cena.
Mary me saudou com sua taça de bebida. Depois, vi Alicia olhando para
nós, boquiaberta. Quando me viu olhando para ela, virou-se e disse
alguma coisa para Rupert. Ele balançou a cabeça como se estivéssemos
fazendo algo infame.
Senti um sorriso maldoso se abrir em meu rosto.
— Estão pasmos, sim — confirmei.
— Hum. Chegue mais perto. Você está muito cheirosa.
— Você também. Mas se continuar girando a cadeira para a esquerda, vou acabar vomitando.
Will mudou de direção. Com meus
braços envolvendo o pescoço dele, afastei um pouco o rosto para olhá-lo e
vi que não estava mais inseguro. Baixou o olhar para meus peitos. Para
ser justa, na posição em que eu estava, não havia nenhum outro lugar
para onde ele pudesse olhar. Tirou os olhos do meu decote e levantou uma
sobrancelha.
— Você sabe que só deixa esses peitos tão perto de mim porque estou em uma cadeira de rodas — murmurou.
Olhei-o, firme.
— Você nunca iria olhar para os meus peitos se não estivesse numa cadeira de rodas.
— O quê? Claro que olharia.
— Não. Se não fosse cadeirante,
estaria muito ocupado olhando as louras altas de pernas e cabelos
compridos, que gastam uma fortuna a cada passo que dão. De todo jeito,
eu não estaria aqui. Estaria servindo as bebidas lá no bar. Seria uma
das pessoas invisíveis.
Ele piscou.
— Então? Não tenho razão?
Will olhou para o bar e depois para mim.
— Tem. Mas, em minha defesa, Clark, devo declarar que eu era uma besta.
Dei uma risada tão alta que fez mais gente olhar para nós.
Tentei ficar séria.
— Desculpe. Acho que estou ficando histérica.
— Sabe de uma coisa?
Eu podia passar a noite toda olhando
para ele. Para o brilho no canto dos seus olhos. Para o lugar onde o
pescoço encontrava o ombro.
— O quê?
— Às vezes, Clark, você é a única coisa que me dá vontade de levantar da cama.
— Então vamos para algum lugar. — As palavras saíram da minha boca antes que eu percebesse o que queria dizer.
— O quê?
— Vamos para algum lugar. Passar uma semana nos divertindo. Só nós dois. Sem esses...
Ele esperou eu terminar a frase.
— Idiotas?
— ... idiotas, isso mesmo. Aceite, Will. Vamos.
Ele não desviou os olhos dos meus.
Eu não sabia o que estava dizendo.
Não sei de onde veio tudo aquilo que eu disse. Só sabia que, se não
conseguisse convencê-lo a aceitar a minha proposta aquela noite, com a
ajuda das estrelas, das flores, dos risos e de Mary, então eu não tinha a
menor chance.
— Por favor.
Os segundos anteriores à resposta pareceram durar uma eternidade.
— Vamos — ele concordou.
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